
Em Novembro, a Disney+ vai abusar de você
Aviso: esse é um artigo com opinião, e uma séria bronca, incluída!
Não é segredo que a gigante Disney aceitou muito mal a entrada de outros concorrentes no mercado de mídia. E no decorrer da última década, os fãs de cinema e TV tem observado a empresa, de forma não exatamente silenciosa, não se contentar mais com suas próprias criações e usar de seu poder econômico para comprar personagens, obras e empresas, de forma a garantir para si um certo monopólio sobre franquias já amadas por fãs: Star Wars, o Universo Cinematográfico Marvel, etc.
Agora a empresa prepara seus lances finais em seu xadrez contra o consumidor de mídia brasileiro: Lembra daquele DVD Disney que você planejava comprar para o seu filho assistir no ainda resistente aparelho de casa? Esqueça. A partir do próximo 17 de Novembro, a empresa lançará no país seu serviço de streaming, o Disney+. E todo e qualquer conteúdo da empresa só estará disponível através desse serviço. Sua liberdade de escolher de que jeito você quer consumir o conteúdo deles será abolida!
Mas isso está longe de ser o pior: lembra dos filmes da Marvel que você assistia confortavelmente em sua conta na Amazon (que ainda cobra baratinho por seus serviços por aqui) ou Netflix? Agora pertencem à Disney, lembra? Todos eles, mesmo os que foram ao cinema antes da compra pela empresa, vão desaparecer de qualquer outro canal! Serão sequestrados pela Disney e você só poderá assistí-los no streaming dela. O mesmo vale para Star Wars, Pixar, e qualquer outra franquia que a Disney conseguiu adquirir nos últimos anos.
E é óbvio que a concorrência desleal não vai parar por aí, certo? Todo e qualquer conteúdo não autoral possuído pelos serviços de Streaming concorrentes que venham a fazer muito sucesso, serão certamente alvo de tentativas de aquisição pela “gestapo do Mickey” e seu “Serviço para a todos governar”. Está declarada a “Guerra do Streaming” no Brasil, e quem perde somos nós: consumidores.

Apresentando: O lado obscuro da Disney
Estamos falando de uma empresa que foi muito querida no século XX, por causa de seus personagens simpáticos e por transformar filmes com esses personagens em obras de arte. Também mudou a face de como contos de fadas eram consumidos por crianças, e tinha um enfoque muito positivo à Educação infantil, pauta que transmitia para seus filmes, animações e revistas em quadrinhos.
Mas também estamos falando de uma empresa não exatamente tão legal quanto parecia. De forma que muito lembrava o célebre Tio Patinhas, quando seus funcionários mal pagos resolveram formar um sindicato, Walt Disney mandou cercar os estúdios com seguranças armados para evitar que esses funcionários se manifestassem. Na ocasião de uma greve, Walt precisou ser contido para não bater em alguns trabalhadores…
Há outras coisas desconcertantes sobre o caráter de Walt, mas não estamos aqui para discutir isso e sim para apresentar o perfil da empresa. Porque sim, esse perfil não parece ter mudado muito com o passar do tempo…
A Disney é implacável quando se trata de proteger seu conteúdo, chegando à desonestidade. Originalmente a extensão do direito autoral de uma obra era de 56 anos após a morte dos autores. Mesmo após as sucessivas extensões de validade de direitos autorais para até 75 anos, a Disney não estava satisfeita com a perda iminente do Mickey e manipulou o Congresso dos EUA para criar leis que extendessem ainda mais esse período, agora para 95 anos! Essa aprovação ocorreu em decisão fechada, sem discutir o assunto com a sociedade ou o mercado: apenas os interesses da Disney prevaleceram e ponto final. Atualmente, o Mickey tem seus direitos autorais garantidos até 2003, e não duvido que então haverá mais uma lei, que vai estender esse prazo mais uma vez…
Traduzindo, não importa o quanto a Disney já tenha ganho com um único personagem, e quantas pessoas tenham contribuído de graça ao longo do tempo para adaptá-lo e deixá-lo mais interessante, incluindo o próprio público, a empresa acha que a sociedade não merece nenhum crédito por isso e vai continuar cobrando. É como se você recebesse uma conta ou uma visita de advogados do autor à muito morto, a cada vez que cantasse “parabéns pra você” em uma festa…
Falando em advogados, a empresa é também a que mais embarga conteúdos derivados das obras em sua carteira de direitos autorais. Você é professor de violão e quer ensinar pessoas no Youtube a tocarem o tema de Frozen para os filhos delas? Se o seu vídeo for descoberto, ele será interrompido. Você é uma cantora e quer interpretar a música? Também corre um alto risco de ser tirada do ar. Até mesmo comentar publicamente sobre as obras, como resenhas, já pode ultrapassar o limite do Fair use (quando se usa elementos de uma obra para falar sobre ela) e isso pode ser um problema.
É por isso que, mesmo nesse artigo, não estamos usando nenhum material gráfico original, de nenhuma das aquisições da empresa.
E… Adivinha? Em contrapartida, a maior parte das obras de mais sucesso da Disney são trabalhos derivados baseados justamente de obras em domínio público, que perderam seus direitos autorais ao longo do tempo. Ou você acha que empresa inventou histórias como Tarzan, Mogli, Cinderella, Aladdin, Rei Leão, Pocahontas, Mulan? Ela pega, de graça, o que quer do domínio público, mas não gosta de devolver ao mundo o mesmo valor.
Mas de todos os problemas dessa companhia, o mais moderno e grave é que ela odeia a ideia de concorrer de igual para igual no Mercado. Não basta trabalhar e ganhar dinheiro em troca, a empresa precisa controlar o nicho de entretenimento. Devagar, como parte de uma estratégia cuidadosa, ativos vão sendo comprados e então retirados do alcance dos concorrentes. Até chegar um dia no futuro, em que a empresa já estendeu suas mãos em cima de tudo o que a gente gosta. Um rato para a todos governar!
E, é óbvio, os valores culturais, éticos e morais das obras originais vão sendo substituídos, ora pelos valores conservadores da companhia, ora pela visão de seu departamento de marketing sobre o que seria o “politicamente correto” a fazer. Não é a toa, por exemplo, que a franquia Star Wars esteja recebendo reclamações de fãs por ter perdido sua essência em favor de uma versão mais enlatada, mais “Nutella” da obra (com uma exceção notável para o excelente “Rogue One”). E o que dizer da franquia “Piratas do Caribe”, onde vemos os provavelmente únicos piratas da História do mundo que não falam um palavrão sequer! :-D
É, talvez a fábrica de sonhos que aprendemos a amar quando crianças não seja tão legal assim. Eles querem TUDO. E isso é triste.

A Guerra dos Streamers
Não é a Guerra dos Tronos, mas promete trazar prejuízos irreparáveis ao mercado de mídia. Para entender isso direito e suas consequências, vamos voltar um pouco no tempo…
No fim do século XX, o nosso acesso ao conteúdo era feito através do cinema, de discos físicos (caros) comprados em lojas, ou transmitindo por broadcast pela TV (seja a tradicional aberta ou a TV por assinatura, que é uma opção com um custo-benefício bem baixo). Mas tarde lojas digitais como a Google Play ou a AppStore começaram a oferecer o aluguel ou venda do direito vitalício de download de uma cópia (que é vendida caro, pelo mesmo preço dos discos físicos apesar da produtora não ter mais os custos de produção dos discos e sua distribuição).
Não era um cenário muito acessível ou vantajoso para o telespectador, e onde temos clientes mal atendidos, surgem “opções paralelas”: as cópias ilegais começaram a fazer sucesso e as produtoras não gostaram nada, mas nada podiam fazer. Não se consegue mandar a chuva de volta para o céu, nem segurar a pirataria digital.
A título de curiosidade, de todas as produtoras a Disney foi a que pior reagiu: sem poder para fechar todos os sites de torrents e impedir as cópias, começou a apontar o dedo para todo mundo pelos seus problemas. Acusou empresas de tecnologia como a Microsoft ou a Google, começou a incluir em seus discos propagandas acusando espectadores - sem a empresa se dar conta de que, se você está assistindo essa acusação, a sua cópia era obviamente legalizada! Piratas removiam todo conteúdo extra - e por fim começou a acusar todo mundo que olhasse para seus grandes outdoors em cidades movimentadas. “Parem de nos roubar e vão ler um livro” era o resumo da maioria dos slogans… Você tinha de ler isso mesmo que não estivesse nem aí para o que eles produziam.
Então chegou uma empresa chamada Netflix que criou um novo modelo de negócio - o streaming - atacando a raiz do problema: as pessoas não faziam cópias ilegais por amor ao crime. Elas queriam valores justos, acessibilidade e diversidade. E como distribuir e obter conteúdo ilegal ficava cada dia mais difícil e exigia mais conhecimento técnico, em contrartida o serviço Netflix deveria ser simples: pague a mensalidade e veja o que você quiser, quando quiser, sem trabalho nenhum!
Logo o modelo de streaming provou ser capaz de resolver o que os “Barões da mídia” nunca conseguiram: tornar a pirataria digital obsoleta (junto com TV, discos físicos, lojas digitais de cópias, e boa parte do cinema). As grandes produtoras logo deixaram de atacar a ideia e franquearam seu conteúdo ao stream.
O modelo também admite uma concorrência. O principal concorrente da Netflix hoje no Brasil é a Amazon Prime, e as duas empresas vivem uma rivalidade muito saudável para o consumidor: para se diferenciar (porque muitos produtores franqueiam conteúdo para ambas), os serviços começaram a produzir cada vez mais conteúdo original. A Netflix lança uma série, a Amazon cria um conteúdo parecido para o mesmo público e assim por diante. Nessa disputa amistosa, se adaptam mais obras literárias, atores e diretores recebem mais trabalho, espectadores ganham mais opções e tem mercado pra todo mundo. A Rede Globo brasileira entrou com seu próprio serviço com seu conteúdo, redes de assinatura como a HBO também, e o consumidor estava cheio de opções.
Mas daí chegou na arena alguém que não sabe brincar…
Ao invés de apenas entrar no ringue com mais conteúdo de qualidade, o serviço Disney+ saiu comprando todo conteúdo pronto que pôde já com o objetivo de retirar das concorrentes os direitos de exibição, forçando o público a assinar seu serviço se quiser ter acesso a ele de novo!
Não basta isso: todo conteúdo possuído pela Disney (incluindo Marvel, Pixar e Star Wars) vai deixar de ser oferecido sob qualquer outro formato que não o serviço Disney+: discos, aluguel ou compra em lojas de cópias, nada!
Isso não apenas é uma agressão ao consumidor por si só, como muda as regras do jogo de um jeito bem desagradável. Para não ficarem atrás, concorrentes vão começar a fazer o mesmo. Por exemplo, a HBO Max recentemente adquiriu os direitos da franquia Harry Potter e o pouco que a Netflix possui já vai sair de catálogo essa semana… A tendência é que ao longo do tempo qualquer conteúdo de sucesso disponível em mais de um serviço, seja adquirido por alguém e “sequestrado” para uma única plataforma!
Mais uma vez, as produtoras colocam o consumidor em uma situação que ele não gosta: ou simplesmente fica sem parte do conteúdo que ele quer, ou desembolsa muito dinheiro por mês para assinar todos os serviços. Nenhuma das opções é satisfatória.
Sabem qual o inevitável resultado? O consumidor brasileiro, que não gosta de se sentir coagido, tende a parar de pagar por streaming e voltar para a pirataria. Essa é uma guerra que ninguém vai conseguir ganhar, e todo o Mercado de mídia vai perder. E junto, obviamente vão perder financiamento roteiristas, diretores, músicos, atores… Todas aquelas obras originais cada vez melhores, vão ficar cada vez mais raras no futuro.
Dona Disney, isso é concorrência desleal, e você vai acabar afundando o mercado de streaming inteiro com o seu peso de traseiro de Dumbo! Além de prejudicar todo mundo no nicho, corre o sério risco de atrair o ódio do brasileiro. E quando nós odiamos uma coisa por nos sentirmos lesados, levamos isso a sério e nunca mais esquecemos! Conselho de amigo, nunca tente nos forçar a comprar o que não queremos, isso não termina bem.
Vocês não vão substituir a Netflix, a Amazon ou a Globo Plus no Brasil. Ao invés, a tendência é que os consumidores legítimos de todos os serviços começem “misteriosamente” a sumir…

Conclusão
Esse embuste em forma de serviço de streaming, o Disney+, chega ao Brasil no próximo dia 17 de Novembro, nas condições discutidas acima. E não espere um preço de estréia atraente ou período de teste grátis, o inferno vai congelar antes disso acontecer. A empresa não precisa atrair sua atenção com promoções, já que a estratégia é te coagir a assinar o serviço.
Queremos saber a sua opinião! Use os comentários abaixo ou acesse nossas redes sociais. Só pedimos para não manifestar dicas sobre como contornar a situação de forma ilegal, para aproveitar melhor o seu tempo para pipoca… Mas sejamos francos: se você compartilhar esse artigo em suas próprias redes sociais com os botões abaixo, pode comentar o que quiser e nada poderemos fazer, imagino…